domingo, 29 de maio de 2011

Naqueles tempos...

Diz sim, diz não: se vale da ausência de luz para reverberar sua arte. Caminha um pouco e tropeça. No escuro é assim. Que pena! não vê um palmo à sua frente. Não sabe, portanto, se o que sai de suas mãos é guerra ou arte. Não enxerga as quatro paredes que lhe cercam. Confunde uma balsa de guerra com uma valsa de amor: os acordes são os mesmos. Caminha, entretanto. Navega sem rumo. Segue a melodia, mas estranha as dissonâncias. Alguém grita: "É assim mesmo". Acredita pela metade. Exatamente do meio do silêncio - revolucionário silêncio - um click: se ofusca com o barulho do interruptor. De assalto, tomado pelo susto, grita. Quase ninguém escuta, e alguém quase responde. Até comemora, e elabora uma outra frase pra dizer. Não chega a dizê-la, mas chega a ouvi-la - e dói. Outro click e pronto: o silêncio. De novo. Algo lhe alveja a cabeça. Não sabe bem o que é. Agora alguém grita. Sangrando, quase ouve: "é guerra". Aceita, matuta e responde: "é arte". Sem dó, puxa o gatilho, aponta pro inimigo, e vê, bem próximo, o barulho hediondo de seu projétil: é o veromíssil.

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